quarta-feira, 12 de junho de 2013

"Os cinco-reisinhos, o tostãozinho ou o cêntimo para o Santo António"

Santo António nasceu em Lisboa, cerca de 1195 e morreu em Pádua, Itália, no ano de 1231. Foi canonizado em 1233, pelo papa Gregório IX.
Santo de especial devoção de muitas gentes, é protector dos marinheiros, dos pobres, das jovens casadoiras e dos objectos perdidos.
Anualmente, a 13 de Junho, celebra-se o seu dia. Uma das manifestações mais características, nomeadamente na cidade de Lisboa, embora tenha vindo a cair em desuso, são os tronos erguidos em sua honra.
A prática de organizar os tronos de Santo António é posterior ao terramoto de 1755. Nesse dia, a igreja, que lhe era dedicada, foi destruída. Não havendo dinheiro para a reerguer, a recolha de fundos para a sua reconstrução foi entregue às crianças, que pediam uma singela moeda para a nova obra que se pretendia edificar. Tal veio a acontecer em 1757. A tradição dos tronos manteve-se até meados do século XX, principalmente nos bairros mais populares.
Embora não percebesse claramente o que estava a fazer, lembro-me, nos meus tempos de criança, de correr as ruas, com as minhas amigas de brincadeira e pedir "um tostãozinho para o Santo António". Era uma maneira de arranjarmos umas moedas, que logo eram trocadas por rebuçados.
Bastante mais tarde, concorri, com este Santo António de flores silvestres, ao concurso organizado anualmente pelos "Artesãos da Região de Lisboa", sob a direcção da Srª D. Maria de Portugal.




O século XIX, foi um século em que os revivalismos e o sentido patriótico foram muitos sentidos. Nessa conformidade, esteve muito em voga a celebração dos centenários. Entre eles, destacou-se a efeméride do 7º centenário do Nascimento de Santo António. 






Pelo decreto de 19 de Julho de 1894, estabeleceu-se o calendário e o projecto oficial da Festa Nacional, do 7º Centenário de Stº António de Lisboa, que iria decorrer entre 13 e 30 de Junho, portanto durante três semanas, sob a "Presidência Honorária de Sua Majestade A Rainha".
A Comissão Executiva, presidida pelo Marquês de Pombal, preparou um programa repleto de actividades, a maior parte destinada a ser gozadas e apreciada pela população, como espectáculos de fogo de artifício e balões incandescentes, iluminações em vários pontos da cidade, arraiais no Terreiro do Paço, corrida de touros à Antiga Portuguesa, na Praça de Algés, Grande Cortejo de carros alegóricos e um concorrido Cortejo Fluvial no Tejo, no qual seria levada, em procissão, a imagem de Santo António no bergantim real,  desde o cais de Stª Apolónia até ao cais da Rocha Conde de Óbidos. O cortejo pretendia simbolizar o momento do embarque de Santo António para África. As festividades, conforme programado, terminariam no dia 30, pelas 4 horas da tarde, com uma "Solemne Procissão" pelas principais ruas da cidade e culminariam com um Te-Deum, na Sé Patriarcal.

O cariz marcadamente popular destas comemorações foi potenciado pela profunda devoção de que o Santo era alvo. A análise do programa revela que diversas outras actividades dele constavam, nomeadamente uma Exposição de Arte Sacra Ornamental, de cuja "comissão dirigente" faziam parte, entre outros, o escritor Ramalho Ortigão, os artistas plásticos Rafael Bordalo Pinheiro e João Vaz e o arquitecto Adães Bermudes. Para além desta exposição, que teve o contributo de peças vindas dos vários paços reais, outros eventos ocorreram: os Espectáculos de Gala nos Teatros D. Amélia e D. Maria II, ou a Regata Internacional e, ainda, o Tiro aos Pombos, na Real Tapada da Ajuda.


Muitas e curiosas demonstrações relativas a este 7º Centenário perduram em registos expressivos,  tais como pratos de faiança, placas comemorativas, selos e postais de correio, medalhas,  servindo até de base a anúncios publicitários de casas comerciais.

A repercussão que a comemoração do 7º Centenário alcançou encontra-se documentada, entre muitos outros testemunhos, pelas fotografias que seguem, gentilmente facultadas por um coleccionador particular.












Imagem retirada da internet














1 comentário:

  1. Gostei muito desta evocação do nosso santo mais popular através deste interessante conjunto de faianças - o penúltimo prato parece-me coimbrão por analogia com uma travessa do MNMC.
    Mas também o seu trabalho em flores silvestres presta uma bela homenagem a Santo António, pela humildade e singeleza dos materiais.
    Ensinaram-me em miúda a fazer minúsculas bonecas de papoilas, coroas de pequenas flores azuis para marcadores de livros, maçanetas de alfazema para pôr nas gavetas e nas arcas... por isso aprecio muito estes trabalhos com flores.
    Um abraço

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