O que será?
Que objecto misterioso será este?
Uma caixa redonda, forrada de papel, secreta, que suscita a curiosidade e pode levar a várias conjecturas.
Vamos levantar, um pouco, a ponta do véu...
É um trabalho artesanal, que denota arte, minúcia, gosto, inspiração e muita paciência. Uma orla de flores e um pequeno folho rodeiam-no. Revele-se o enigma.
É uma "prenda de convento"(?).
Segundo o seu proprietário, a história da sua produção foi-lhe contada por um conceituado antiquário. Na sua região, Alentejo, eram prendas executadas pelas freiras, que as ofereciam às visitas, pessoas ou benfeitores do convento. Conversando com outros apreciadores de belas e algo insólitas peças, a informação oral que me foi transmitida, é a de que só seriam conhecidas duas "prendas de convento" (?) como esta.
Fruto de uma actividade paciente e laboriosa, é executada em linha, entrelaçada, formando dois corações, que repousam num ninho, também de linha, menos compacta, para que estes se possam evidenciar. Ramos de papel prateado dão-lhes realce. Uma cercadura de botões, intercaladas por minúsculas flores e frutos,de cores contrastantes, e de pérolas, rodeiam-nos.
Nesta imagem podemos ver, em pormenor, as pequenas cobras em cerâmica, dispostas um pouco ao acaso, que simbolizariam o Mal, que o Bem - os corações-, venciam.
A produção de peças artísticas como esta, inseria-se nas tarefas quotidianas das irmãs, normalmente executadas na "casa do trabalho", nas horas determinadas pela abadessa. Acompanhadas pela leitura de textos espirituais, as freiras desenvolviam os seus talentos, ficando muitas vezes conhecidas individualmente, vendo o seu mérito artístico reconhecido, quer a nível social, quer nacional e, por vezes, mesmo além fronteiras.
Imbuídos de um simbolismo espiritual eram feitos com o sentido de exaltarem a fé, decorando espaços litúrgicos e pequenos altares particulares. Muitos outros objectos e trabalhos foram produzidas palas irmãs em clausura: flores, palmas, pequenos registos primorosamente decorados, que estabeleciam uma relação estética entre a devoção e o artístico. As dádivas/presentes, quer entre conventos, quer a seculares, perpetuam os laços com a sociedade exterior ao convento, numa relação estreita entre o sagrado e o profano.
Agradeço ao seu proprietário a permissão para fotografar e publicar as imagens.
Ivete,
ResponderEliminarMuito interessante. Nunca tinha ouvido falar. Gostava de ver outras ampliações porque as imagens grandes percebem-se mal para quem não viu a peça.
Um bj
Estamos sempre a deparar-nos com "novidades", que nos encantam, quer pela invulgaridade, quer pela beleza. Foi como abrir a caixa de Pandora... não há palavras para descrever a surpresa.
EliminarAinda está por fazer a história destes lavores femininos, feitos com materiais pouco nobres, perecíveis, mas ao tempo tão fascinantes pela sua minúcia.
ResponderEliminarUm abraço
Luís
EliminarDeixei escapar o comentário que já tinha escrito. Coisas que acontecem a quem não tem muita prática nos computadores.
Tem razão, quando afirma que a história dos lavores femininos está por contar. Folheando revistas antigas deparamo-nos, por vezes, com trabalhos magníficos, feitos a partir de materiais simples e dos quais não nos lembraríamos de utilizar. É um tema para estudar e desenvolver. Ideias não faltam...
Um abraço
if
Já percebi que não se aborrece nada :-)
ResponderEliminarÉ muito refrescante esta sua curiosidade por todos estes assuntos.
Esta peça em particular é sem dúvida algo que nunca tinha visto, pois, além de insólita, apresenta materiais perfeitamente comuns, que, no entanto, comunicam uma forma de beleza de que se vai perdendo o gosto.
Não é fácil sentir o apelo destas artes de antigamente, a não ser que ainda se possua a sensibilidade para tal
Manel
Manel
ResponderEliminarMuito obrigada pelo seu comentário e pelas palavras amáveis. Realmente, sou curiosa por alguns assuntos, principalmente os que, de algum modo, estão ligados ás artes decorativas. Esta peça é invulgar, quer pela forma e materiais, quer pelo tema abordado. Pena é que não haja bibliografia específica. A que encontrei é muito genérica.
if