Francisco Hipólito Raposo, grande conhecedor e coleccionador de faiança portuguesa, na crónica semanal que escrevia no jornal Expresso, na década de noventa do século passado, conta-nos como descobriu uma figura de convite, produzida na extinta fábrica da Roseira.
Francisco Hipólito Raposo |
Numa ida para o Alentejo, enquanto duravam as manobras do comboio em Santa Apolónia, sua irmã Isabel avistou, num pequeno vão de escada, uma figura colorida. Por ela alertado, foi até lá. Fascínío completo - era uma figura de convite de um soldado, pintado por Mestre Roseira. Estava na parede de uma casa pombalina, toda revestida de azulejos setecentistas, onde laborara a antiga Fábrica da Bica do Sapato. A esta sucedeu a Fábrica da Calçada dos Cesteiros, também conhecida por Fábrica da Roseira, designação que passou a tomar devido ao nome do seu posterior adquirente, Augusto Victor Roseira.
Fachada principal da Fábrica da Roseira |
Depois de várias diligências com a sua proprietária, descendente do Mestre Roseira, foi fixado como preço de aquisição o valor de doze contos. Uma condição adicional - que o grande coleccionador, naturalmente, satisfez de bom grado - foi a de que ele se comprometia a mandar substituir, por azulejos comuns, o espaço desfalcado.
A figura de convite revelou-se um original soldado de um qualquer regimento português do século XIX, com "calças bombadas de zuavo, o quépi tipo "Meninos da Luz" e gola amarela com a insígnia dos Caçadores, a trompa de caça". Recuperados que foram os azulejos, estes passaram a decorar as paredes da casa do coleccionador.
A Fábrica da Roseira continuou a sua laboração, dedicando-se, especialmente, à produção de azulejos de fachada e de painéis publicitários.
Por encomenda do rei D. Fernando II, produziu parte dos painéis azulejares para o Palácio da Pena. Também se tornou mais conhecida a partir do momento em que forneceu o revestimento exterior do Palacete Beau-Séjour, em Lisboa.
Palacete Beau Séjour Imagem de autoria de Mário Marzagão |
Palacete Beau Sejour Imagem de autoria de Mário Marzagão |
O enriquecimento de um grupo urbano de industriais e comerciantes, desejosos de demonstrarem a modernidade do seu gosto, fez com que os painéis publicitários em azulejo entrassem na moda. Estes, para além de afirmarem a individualidade dos seus encomendantes, engrandeciam, pelo seu colorido, as fachadas onde eram afixados. As lojas, mais apelativas e personalizadas, transformam-se, assim, em pólos de atracção de clientes.
É o caso do painel publicitário, alusivo à fábrica de goma "A Japoneza", também produção da Fábrica Roseira. Pertenceu à colecção Leitão. Actualmente, faz parte do acervo da colecção Berardo.
Cortesia do coleccionador Leitão |
Há poucos dias, folheando o Almanaque Bertrand de 1913, encontrei um anúncio à fábrica Roseira. Por entender que pode trazer alguns esclarecimentos para o estudo da mesma fábrica, junto-o a este post.
Nota: Este post teve como suporte a crónica "Bandeira do Património",escrita semanalmente, por Francisco Hipólito Raposo, no Jornal Expresso, 1993.
Cara IF
ResponderEliminarA If tem que activar o Menu "Seguidor", pois assim não conseguimos ser alertados cada vez que publica um novo post e é uma pena, uma vez que os assuntos são tão interessantes. Se precisar de ajuda, ligue-me que eu a ajudo nessas coisas técnicas.
Acho muito giro estes posts, que faz com notícias antigas de jornais e revistas sobre antigos colecionadores. Não tinha sequer a ideia que a Roseira fabricasse paíneis publicitários em azulejos.
Achei graça à história do Hipólito Raposo ter comprado os azulejos. Recordei-me que há pouco tempo estava eu a fotografar umas estatuetas em faiança numa casa em Estremoz, quando o proprietário meteu conversa comigo pensando que eu lhe queria comprar a casa. Voltei ao mesmo sítio este ano, o prédio estava em obras e das estatuetas já não havia notícia. Devia ter feito como o Hipólito Raposo e ter oferecido na altura 20 euros por cada uma das estatuetas e ficava eu com uma e o Manel com outra.
Enfim, falta-me o olho para o negócio
Um abraço
Luís
ResponderEliminarFoi pena ter perdido a oportunidade do negocio. As imagens mereciam um final digno e estarem na posse de pessoas que as apreciam, era puro sobre azul. Outras ocasiões surgirão.
Tenho mais alguns temas em estudo, baseados em artigos de jornais e de revistas. A seu tempo virão.
Um abraço
If
Olá, sou filha do Francisco Hipolito Raposo. Foi com muito gosto que li o seu artigo.Este painel do soldado faz parte da minha vida e nunca soube da sua historia e origem até hoje. Permanece até ao presente, na casa em que ele viveu.
ResponderEliminarMuito muito obrigada. Catarina
Catarina
EliminarGostei da sua mensagem. Fico contente por ter recordado seu Pai e, de algum modo, esclarecer uma pequena história que encontrei descrita num artigo do Jornal Expresso.
Ivete