Num jantar em casa de pessoas amigas, e no fluir da conversa, abordou-se o tema da produção das nossas faianças. Grande coleccionador, apreciador e profundo conhecedor de antiguidades mostrou algumas peças, qual delas a mais excitante (permitiu-me tirar outras fotografias, que ficam para um novo post) e abriu-se a caixa de Pandora: da gaveta de uma cómoda, surgiu esta bela terrina.
Dirão: " É mais uma..." É. Mas tem a particularidade - sinal distintivo muito raro na generalidade da nossa faiança - de se encontrar marcada. Foi produzida na fábrica de Santo António de Vale Piedade.
VALENTE, Vasco "Cerâmica Artística Portuense dos séculos XVIII e XIX", p.145 |
A marca é característica do terceiro período de laboração da fábrica, aquele em que se produziu "loiça de uso doméstico, estatuetas, vasos para jardins e azulejos de faiança" 1, que decorreu entre 1887 e a terceira década do século XX. Era sua proprietária a firma António José da Silva e Silva.
A concorrência de louças estrangeiras, principalmente inglesas, mais baratas e de melhor qualidade, obrigou a que a sua produção se tornasse mais popular, destinando-se a um público com menor poder de compra.
O motivo "País" tem como matriz a decoração da louça inglesa executada com estampilha e predominância da cor azul. Esta sobressai do vidrado leitoso com que está coberta.
O casario desta peça não apresenta o típico edifício com cobertura oriental, antes lembrando uma construção inspirada nos prédios pombalinos (referência já feita pelo LuísY, no seu blog Velharias), constituídos por vários andares e uma mansarda. Todo o conjunto está envolvido por vegetação.
Asas laterais bem delineadas que, pelo torcido das formas, poderão simular troncos de árvore, que se espraiam para baixo, pelo corpo da terrina, através de um apontamento de folhas, cujos contornos foram levemente acentuados.
1. VALENTE, Vasco "Cerâmica Artística Portuense dos séculos XVIII e XIX"
IF
ResponderEliminarMuito interessante. A terrina é linda e a IF deixou aqui uma referência preciosa para todos os amadores e colecionadores de faiança. Todos nós vamos comparar as nossas peças com esta.
A pega da tampa desta terrina é relativamente comum no cantão popular, já as asas são mais invulgares.
Pela minha parte, registei e gravei as imagens aqui apresentadas.
Um abraço
Luís
EliminarTem toda razão. Qual nao foi o meu espanto quando, ao vira-la, me deparo com a marca da fabrica. Teve influencia a leitura do seu excelente post sobre o Cantão Popular para a importância da marca para podermos atribuir por comparacao e com alguma segurança ,as pecas que vamos observando. Neste momento estou a olhar para uma terrina com a mesma decoração, mas sem marca nenhuma. Nao chego a nenhuma conclusão. E do norte, evidentemente. Mas mais nada posso aventar.C'est la vie!
If
Cara IF
ResponderEliminarBem haja pela apresentação da peça de alto valor credetício por estar assinada.Parabéns extensivo ao seu amigo, que gentilmente acedeu na partilha.
Confesso que gosto muito desta fábrica, sobretudo duma época do uso de esmalte translúcido.Quanto ao motivo cantão que tanto me apaixona, não me deslumbrou por o achar com muita semelhança a Miragaia-, até um dos carimbos usados com as folhas entrelaçadas foi copiado, de quem para quem, não sei. Tenho uma tampa de terrina que vou analisar melhor pois pode ser desta fábrica e não Miragaia como na altura a cataloguei.
Posto isto a peça é premissa para de futuro se catalogar com maior sapiência a faiança do norte neste motivo, porque na verdade tenho dito que é Miragaia...ouvido, e até lido! Há que por os pontos nos iiis.
Como sabe o LuísY à pouco tempo postou um belo prato coedor de copinhos de aguardente que no meu ligeiro alvitrar disse se tratar de Coimbra. Sendo ele um homem que não dá tiros no escuro, foi elegante ao ponderar a minha sugestão, não a excluindo, mas convito(?) que poderia ser Santo António do Vale da Piedade.
A meu ver , apesar de pouco tempo para análises, vou de férias, julgo que o post é bem explicito das grandes diferenças decorativas das peças em questão, e com isso uma grande valia na catalogação futura.
A peça excecional do Manel para mim continua perto da percentagem dos 100% na atribuição a Coimbra.
Encontrar alguma peça assinada que nos ajude com certeza maior seria a cereja no topo do bolo-, já que amanhã dia 5 é o aniversário do Luís , seria uma excelente prenda de aniversário.
Cumpts
Isabel
Foi realmente uma bela surpresa, cara Ivete!
ResponderEliminarAos poucos a Fábrica de Sto. António vai-se revelando através das poucas peças marcadas que vão aparecendo. Por coincidência, tenho já comigo fotos de faianças com marca deste fabrico que publicarei brevemente. E a Ivete também vai ter uma agradável surpresa...
Se considerarmos que a Fábrica de Santo António de Vale da Piedade laborou durante quase 150 anos, até bem dentro do séc. XX, tem de andar por aí muita da sua produção, não identificada como tal. Com estas partilhas podemos fazer analogias de formas e motivos e neste caso , se exceptuarmos a pega da tampa, o formato da terrina - pegas laterais, pé, corpo, relevos - a terrina é muito semelhante a uma que tenho com motivo de casario com chalé e que nunca atribuí a essas paragens. Agora fiquei na dúvida...
É por isso que posts como este são tão úteis e tenho que agradecer, a si e ao seu amigo,esta generosa partilha.
Um abraço