segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ratinhos em Trás-os-Montes


Pobres migrantes Ratinhos que tanto tiveram que caminhar, tal como tantos emigrantes transmontanos  caminharam, nas últimas décadas do século passado, procurando melhores condições de vida..
A pequena  mostra de peças ratinhas veio para terras transmontanas e aqui foi usada, tal como tantas outras que vamos encontrando por aí.
O seu "ajuntamento" tem uma história interessante. Há bastantes anos, nas férias, tínhamos por hábito, percorrer as aldeias do concelho de Mogadouro em busca de preciosidades e achados. O grupo era liderado pela minha sogra, senhora de uma personalidade forte e marcante. Não ombreávamos com ela, nem no poder de compra, nem na capacidade de persuasão. Encantava as pessoas que lhe "cediam" as peças e guardavam ciosamente as notas em pequenos rolos. Para essas pessoas eram o seu tesouro. O seu tesouro sonhado. Assim se foi juntando uma pequena colecção de faiança, entre eles os ratinhos, que a seguir se mostram.


Estes dois pratos exemplificam  bem a pluma de pavão. A decoração do primeiro,  nasce claramente de um dos lados da aba, espraia-se pelo covo e termina em grandes flores. Aqui foram usadas as técnicas do esponjado e dos pequenos círculos justapostos. O segundo, um pouco mais avançado no tempo, vive da variedade  e abundância das flores que preenchem toda a superfície da peça.



Um outro exemplar com uma ornamentação plena, demonstrando bem o "horror vacui" que, alguns artistas ratinhos, na esteira da cerâmica  Iznik, magistralmente sabiam executar. Toda a superfície está preenchida com um ramo de flores que se desenvolve, em simetria,  a partir de um eixo vertical. Com um esponjado mais cheio, ou mais distendido, as flores dispõem-se alternadamente, variando na forma e na cor.






Estes dois pratos, espiralados, revelam uma decoração diferenciada na aba.O primeiro apresenta uma divisão em cinco cartelas, descrita por uma linha pentagonal, ladeada por outra, paralela, de pequenos círculos justapostos. O segundo, com uma ornamentação definida em cercadura, sugere uma estrela, expressa por traços delineados através de círculos justapostos, em alternância nas cores amarelo ocre e manganés, intercalados por esponjados e filamentos verdes. Técnica rápida e experiente, que interpreta a mestria dos artistas ratinhos, capazes de, com instrumentos simples, executarem ornamentações inventivas e apelativas aos olhares dos futuros utilizadores.



Para finalizar, duas das peças  mais pequenas da colecção cujas  dimensões  reduzidas lhes conferem especial  graciosidade e leveza. Embora também apresentem a pluma de pavão, podem incluir-se no grupo das flores, pois que são o motivo decorativo dominante. A segunda peça é uma representação mais característica da pena de pavão, uma vez que os respectivos tons,  predominantemente o verde e manganés, a aproximam da configuração do núcleo da própria pluma.



















5 comentários:

  1. Gostei Ivete. Sou Ana Magalhães. Fiz recolha de material para tese no Museu do Traje ao mesmo tempo que a Ivete.
    Beijinho.
    Gosto da iniciativa

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    1. Ola Ana
      Gostei de ter noticias suas e de saber que gostou da minha iniciativa. E sempre bom saber que nos apreciam.
      Muito obrigada pelo seu comentário
      Um beijo
      Ivete

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  2. Cara Ivete

    Já me tinha falado da sua sogra e do seu gosto pelo colecionismo, mas fiquei com uma pergunta atravessada. Como foram parar estes ratinhos a Trás-os-Montes?

    Será que existiu também um movimento sazonal de beirões para o Norte, em particular para a Terra Quente, talvez para a apanha da Amêndoa, azeitona ou uva?

    Os pratos sãos lindos.

    Um abraço

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    1. Olá Luís
      Gostei de ter notícias suas através das imagens desses magníficos castanheiros.
      Quanto à questão que levanta - movimentos sazonais de Beirões para a Terra Quente - a hipótese não é de excluir. Embora o movimento migratório dos Ratinhos fosse preferencialmente para sul, sabe-se que as vindimas do Alto Douro também constituíam pólo de atracção, quer para gentes que iam da Beira Alta, quer para gentes que vinham da região brigantina.
      Daí, um possível contacto e, quem sabe troca de produtos, entre os quais a Faiança Ratinha.
      Da referida colecção, de que sobressaem as peças ratinhas, fazem parte dois soberbos pratos Bandeira, com motivo casario, um deles comprado por mil escudos (cinco euros)...
      Um abraço

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  3. Muito obrigado pela resposta, Cara IF

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