A nossa produção cerâmica é muitíssimo rica, pela diversidade que nos oferece. Uma, de fabrico mais fino, destinada às camadas mais abastadas e conhecedoras, as quais, cientes do papel que desempenhavam na sociedade oitocentista, eram particularmente selectivas nas suas encomendas. Outra, de produção artesanal, de pasta mais fraca, mas que atrai pelo colorido e ingenuidade da decoração, destinada principalmente às camadas mais populares. É o caso das peças que se apresentam e que têm em comum a representação de pequenas aves, quer na cercadura, envolvendo um motivo decorativo principal, quer como ornamentação única na peça.
Estas peças, de uso quotidiano, usualmente conhecidas como "decoração de perdizes" e com um grau de anonimato implícito, não são de fácil atribuição a uma determinada fábrica. Gaia ou Coimbra? Fica a incerteza.
Sabido é que, após as Invasões Francesas, principalmente a partir da década de trinta do século XIX, houve uma evolução no processo de fabrico, entrando-se numa fase de quase plena industrialização. As novas unidades, criadas em Lisboa, Coimbra e Gaia, demonstram essa nova tendência. Abandonam as práticas mais ancestrais, adaptando-se às novidades de produção, nomeadamente às modernas técnicas de estampagem.
Sabido é que, após as Invasões Francesas, principalmente a partir da década de trinta do século XIX, houve uma evolução no processo de fabrico, entrando-se numa fase de quase plena industrialização. As novas unidades, criadas em Lisboa, Coimbra e Gaia, demonstram essa nova tendência. Abandonam as práticas mais ancestrais, adaptando-se às novidades de produção, nomeadamente às modernas técnicas de estampagem.
Representativas de um gosto muito específico e singular, são hoje apreciadas e procuradas, figurando em colecções particulares e museológicas.
Estas peças, de uso quotidiano, usualmente conhecidas como "decoração de perdizes" e com um grau de anonimato implícito, não são de fácil atribuição a uma determinada fábrica. Gaia ou Coimbra? Fica a incerteza. do tema decorativo principal. Bastante bem conservada para o seu tempo de vida, encontrei um exemplar análogo no acervo do grande coleccionador que foi António Capucho.
António Capucho. Retrato do homem através da colecção, pág: 139 |
Pequeno prato de serviço, também com as armas reais, conquanto as flores apresentem uma cor mais forte, em tom de bordeaux. Estes pratos de serviço são mais usuais, pelo que existem em maior quantidade, apenas variando a cor das flores.
A representação das aves, quer como motivo central, quer servindo de suporte decorativo a outras decorações, desde sempre me fascinou. Como ornamentação principal, muito poucos exemplares a exibem. Encontrei, tão só, dois pratos grandes e quatro mais pequenos, de um serviço. Nos primeiros, porque a superfície é maior, vários pássaros esvoaçam pelo espaço disponível. Nos segundos, de menores dimensões, as aves, isoladas, voam, agrupadas num pequeno bando.
Colocados em conjunto com outras faianças, formam um conjunto harmonioso.
Associadas, aqui, a um motivo diferente, "as perdizes", acompanham um emplumado galo, altaneiro no seu porte.
Para finalizar, guardei duas outras imagens, gentilmente cedidas pela Maria Andrade, com a mesma decoração, mas em tipologias diferentes. A chávena faz parte do acervo do Museu de Alberto Sampaio e a jarra de altar pertence à sua colecção particular. O meu bem haja.
Imagem de um jarro pertencente ao acervo do Museu dos Biscainhos com a decoração das perdizes, envolvendo as Armas Reais.
Luísa Arruda, Paulo Henriques, Alexandre Pais, João Pedro Monteiro,"António Capucho. Retrato do homem através da colecção", Civilização Editora, 2004.
Obrigado por nos mostrar estas maravilhosas peças.
ResponderEliminarFrancisco
EliminarFico contente por ter gostado das peças. Realmente, são muito bonitas e frescas. Os pássaros ficam sempre bem nas decorações.
Entre toda a tipologia de peças, as terrinas são, sem sombra de dúvidas, as que mais me encantam e impressionam. Sei que ocupam muito espaço, mas são emblemáticas de um tempo em que a sopa vinha para a mesa numa terrina.
ResponderEliminarEsta sua é de uma beleza que consegue preencher e sustentar qualquer espaço.
E estas peças colocadas neste armário louceiro, num local que até parece feito para as albergar, acabam por se tornarem ainda mais fantásticas.
Estes armários louceiros são os mais vernáculos que conheço e onde as louças ou pratas mais valorizados se tornam.
Até parece que as peças funcionam como catalizadoras da beleza que deixam transparecer para o exterior.
Não tenho nenhum, com grande pena minha, pois a minha casa não estica, como espero que, um destes dias, me possa dar a hipótese de lhe dar a conhecer.
No entanto, inicialmente, quando ela estava vazia, só pensava como ficaria lindíssimo um armário louceiro como este que aqui apresenta, e que eu andava a namorar há já um tempo.
O namoro não deu em nada, pois, depois de trazer as peças que herdei, fiquei sem espaço para uma cadeira mais, quanto mais um armário louceiro!
A Maria Andrade, no post que dedicou a este tipo de motivo, deu-lhe uma possível origem nortenha, pelo método comparativo, a Ivete alarga as hipóteses, de acordo com as hipóteses lançadas na obra que mencionou no texto, indo até Coimbra.
Como já alguém disse, quando não sabe de onde uma peça é, diz-se que é de Coimbra.
Eu, não querendo cair nesta situação ridícula, inclinar-me-ia no entanto para ela, mas seria um tiro no escuro, e praticamente intuitivo, e com uma elevada percentagem de possibilidade de erro, pois não teria sítio algum onde pudesse basear esta escolha.
Seja qual for a escolha, a beleza da peça em nada fica diminuída, e ainda bem que assim é
Manel
Manel
ResponderEliminarGostei muito do seu comentário. Concordo, quando diz que as terrinas são peças que,por si só, necessitam de muito espaço, pois com as suas formas nem sempre são fáceis de conjugar com outros elementos de faiança. No entanto, esta, pelo local onde está, ressalta no conjunto. Um dias destes, mostro-a no seu lugar de rainha.
Quanto ao armário louceiro desde sempre tive vontade de ter um. Estava como o Manel - falta de espaço. No entanto, a ocasião proporcionou-se e lá está ele, a dominar o ambiente, juntamente com uma arca rústica. Os pratos tiveram de mudar de lugar devido a razões de segurança: os netos.
Quanto à atribuição de fabrico, a dúvida mantém-se. Gaia? Coimbra? Quando surgir uma peça marcada, aí as dúvidas esclarecem-se.
if
If
ResponderEliminarParece que a aproximação do Verão também a contagiou e resolveu-nos brindar com peças cheias de cor e alegria.
Todas estas peças que aqui mostrou, muito populares recordaram-me um livro que me impressionou muito na juventude e que revolucionou a minha forma de ver a arte portuguesa. Trata-se da obra de Ernesto de Sousa, "Para o estudo da escultura portuguesa" que valoriza a arte ingénua, vernácula. É um livro que aborda a arte portuguesa de uma forma descomplexada.
No Espírito das teorias de Ernesto de Sousa, podemos escrever que não produzimos peças eruditas como as louças de Sêvres, do Saxe ou a Porcelana de Paris, mas fabricámos terrinas, pratos e jarras ingénuas que nos maravilham a todos pela sua candura. A arte não é necessariamente erudita.
Um abraço
Luís
EliminarSábias palavras as suas quando dia que a "arte não é necessariamente erudita". Quantas peças lindas e delicadas saíam das mãos calejadas dos nossos artesãos. Nelas deixaram transparecer a sua ingenuidade e mestria em interpretar o que viam e sentiam, produzindo peças dignas de ser admiradas nos museus e integrarem colecções particulares.
A arte sente-se!
Um abraço
if
Ivete
ResponderEliminarConcordo com o Luís que estas peças, assim expostas num belo louceiro de portas abertas, nos animam o espírito com a sua cor e alegria.
Embora tenha um louceiro rústico com faianças expostas, ainda não consegui esvaziar uma parte que está cheia de copos e eu gostaria de ter assim toda escancarada com mais faianças à vista ;)
Sempre achei este motivo muito atraente e a partir do momento em que comprei a jarra andei sempre atenta a tentar saber o local de fabrico. Quando admiti ter origem nortenha, como muito bem lembra o Manel, nem sequer me referia a Gaia, mas mais a norte, a Viana, já que foi no Museu de Viana que vi uma caneca assim decorada e com fabrico atribuído a Darque. Por isso fiquei muito surpreendida quando comprei o catálogo "António Capucho, retrato do homem através da colecção" e vi lá as peças com a decoração de pássaros e ramagens e as armas reais ao centro atribuídas a Coimbra.
Imagino que a atribuição, vinda de estudiosos que são autoridades em faiança, tem que ter fundamento e daí ficar a pensar que poderá ter havido utilização deste motivo em mais do que um centro fabril. Aliás, comparando a minha jarra com um prato que entretanto comprei e com as peças que a Ivete aqui nos trouxe, notam-se diferenças, sobretudo nas cores, mas também em pormenores do desenho, nos filetes utilizados...
A faiança portuguesa não marcada dá-nos sempre pano para mangas em assunto de conversa, e é isso, para além de toda a beleza que nos seduz, que a torna tão aliciante...
Abraços
Maria A.
EliminarConcordo consigo quando diz que as peças, principalmente as faianças, são dignas de figurar num armário louceiro. Enriquecem-se mutuamente.
A primeira vez que vi este tema foi precisamente num "ajuntador", em Darque. Era um prato, com uma cercadura de perdizes, a envolver um galo fantástico. Claro que o preço era proibitivo e, logicamente, por lá ficou. A primeira peça que adquiri foi também no Norte, em Barcelinhos. A esse não resisti: era um pequeno prato de serviço, com as armas reais. Está em lugar de honra, pela beleza, e por ter sido o primeiro dessa temática.
É evidente que pode ter sido de produção local ou de alguma região mais próxima (Gaia), ou mais afastada (Coimbra). Sabemos, pelas investigações que vão sendo feitas, que a mobilidade dos artesãos era normal e constante. Com eles levavam as suas técnicas e saberes.
Um abraço
if
Ivete,
ResponderEliminarOs meus parabéns. Vejo que a sua colecção não para de aumentar com belas peças seleccionadas. Um bj
Ana
EliminarObrigada pelas suas simpáticas palavras.
Ivete