Há tempos, num momento de zapping pelas imagens que tenho em arquivo, deparei com este pires que me encantou: pelo desenho e pelas cores. Ainda o Luís não tinha mostrado a sua bela chávena e feito a sua atribuição segura à fábrica de Santo António do Vale da Piedade. Após a sua publicação, surgiu-me, então, a ideia para um post que se adaptasse ao fim que me propunha: um casamento feliz... uma forma para o seu pé...enfim ... um pires para a sua chávena.
Desde finais da década de oitenta do século passado, mas progressivamente ganhando terreno e impondo-se pelo contributo que traz ao estudo da nossa produção cerâmica, a arqueologia urbana torna-se uma mais valia para o estudo da nossa faiança, pela clarificação e ajuda que avalizam uma atribuição segura e inequívoca às respectivas fabricas das peças recuperadas nas escavações.
Foi o caso da chávena do Luís e deste pires que, perdido e triste, andava sem conhecer a olaria do seu nascimento.
É um facto que só se pode fazer uma atribuição indiscutida se as peças tiverem a marca bem estampada e evidente. Por maior que sejam as nossas inclinações e (in)certezas (pasta, vidrado, paleta cromática, ornamentação, formato ...) as filiações são difíceis. Mesmo os grandes conhecedores e especialistas encontram dificuldades nesses procedimentos. Foi o caso deste pires que integra o acervo do MNSR, o qual Rafael Calado, que tive o privilégio de conhecer, atribuiu interrogativamente a Viana, como se pode observar pelo ponto de interrogação aposto.
Um casamento feliz. Quão bem ficariam, lado a lado, estas duas peças, provenientes das mãos habilidosas de artesãos de Santo António do Vale da Piedade. Embora a decoração seja aproximada, existem pequenas alterações, que nos transportam a pintores diferenciados. Mesmo assim, o conjunto seria magnífico e não destoaria numa vitrine, ocupando o lugar de honra.
Colecção particular |
Chávena do Luís |
Laura Cristina Peixoto de Sousa "A fábrica de Santo António do vale da Piedade, em Gaia: arquitectura, espaços e produção semi-industrial oitocentista".
Afinal, alguém tinha o pires igual à chávena do Luís! :) Que coincidência engraçada!
ResponderEliminarE logo nesta decoração tão fora do vulgar, tão alegre e garrida à maneira nortenha ( apesar das urnas que associo muito a cemitério...) e agora comprovadamente de Sto. António de Vale da Piedade.
Belo achado, Ivete!
Beijos
Realmente,apesar da decoração tão invulgar, foi uma coincidência feliz. Daqueles acasos que acontecem de quando em vez e que,dada a tese publicada, permite uma atribuição segura.
Eliminarum abraço
Ivete
É verdade. Recordava-me de ter visto este pires, pensava que fosse na casa da Maria Andrade, que como toda a gente sabe não tem um púcaro que seja para tomar chá, Lol!. Mas, afinal foi na sua casa que tinha visto a fotografia.
ResponderEliminarConcordo inteiramente consigo quando afirma "que só se pode fazer uma atribuição indiscutida se as peças tiverem a marca bem estampada e evidente. Por maior que sejam as nossas inclinações e (in)certezas (pasta, vidrado, paleta cromática, ornamentação, formato ...) as filiações são difíceis.
Como a maioria das faianças portuguesas do séc. XIX não estão marcadas, é quase impossível fazer atribuições seguras e essa impossibilidade só se consegue contornar quando temos acesso ao que os arqueólogos trazem à luz do dia nas escavações feitas nas antigas fábricas de faiança. E mesmo assim, há sempre uma margem de erro, pois sabemos que as fábricas de Porto e Gaia copiavam umas às outras os moldes e as decorações.
O Manel comprou agora duas chávenas com feitas a partir de um molde exactamente igual daquela que apresentei, também pintadas com cores vivas, mas com uma decoração diferente e já não sabemos muito bem o que serão. Serão Também Santo António de Vale da Piedade? Não seria natural que outras fábricas vizinhas usassem o mesmo molde?
Através da tese da Laura Cristina Peixoto de Sousa "A fábrica de Santo António do vale da Piedade, em Gaia: arquitectura, espaços e produção semi-industrial oitocentista", tomei conhecimento que foram feitas mais escavações nos terrenos de outras fábricas do Porto e Gaia, e é uma pena que os resultados não estejam disponíveis em livro ou na net. Seria uma mais valia para os museus, os coleccionadores e os amantes da faiança.
Bjos
Luís
EliminarEssa da Maria Andrade não ter púcaros para o chá ... mas chávenas, e lindíssimas, tem uma colecção digna de museu.
Quanto às escavações que se vão fazendo nos locais das antigas fábricas, concordo consigo quando diz que é uma pena que não se publiquem esses resultados. Eram vitais para uma melhor compreensão dessas produções e
uma mais fácil e segura atribuição. Pode ser que com o tempo e alguns fundos venha a tornar-se numa realidade.
um abraço
Ivete
Foi uma belíssima lembrança!
ResponderEliminarO conjunto das duas peças é um charme.
Oxalá o Luís encontre o pratinho, igual a este, que é absolutamente fantástico, muito especialmente pela cor e pelas formas do motivo.
Já a chávena acho lindíssima, então em conjunto com o prato deve formar uma associação feita no céu.
Enquanto isso, ficamos a admirar este pratinho que aqui deixou.
Um bom final de semana
Manel
Manel
ResponderEliminarFoi uma lembrança repentina e que parece ter resultado bem. Embora apresente ligeiras diferenças na decoração, formam um belo conjunto. Como afirma, é uma associação feita no céu.
Votos de um bom fim de semana
Ivete