Uma pessoa de família reuniu uma bela colecção de peças com a decoração conhecida por Cantão Popular. Estas terrinas demonstram o seu bom gosto. Se bem que se assemelhem no motivo decorativo e na forma, apresentam algumas diferenças nas pastas e nos azuis, uns mais intensos, outros mais esbatidos. Feitas por e para pessoas simples, eram executadas em materiais mais grosseiros, apresentando alguns defeitos, como o vidrado escorrido e a pintura algo apressada. O facto de terem chegado inteiras até aos nossos dias, demonstra a estima em que eram tidas e o cuidado no seu manuseio.
De conformidade com as palavras que o Luís Montalvão escreveu no seu post, de 9.10.2010, o motivo conhecido por Cantão Popular, mais não é que "a adaptação livre e ingénua da louça inglesa do Willow Pattern e foi fabricado em Portugal por várias oficinas, a maioria anónimas, desde o início do século XIX até aos anos 60 ou 70 do século XX.
A partir do momento em que se estabeleceu o contacto com o longínquo Oriente e logo que as peças oriundas da China começaram a chegar aos mercados europeus, as chinoiseries (muitas delas simples interpretações, algumas bem fantasiosas) tornaram-se moda em muitos ramos das artes decorativas e a cerâmica também acompanhou a nova tendência. O motivo conhecido entre nós por Cantão Popular, inspirado na porcelana inglesa, foi popularizado por Thomas Minton, cerca de 1790 e passou a caracterizar a porcelana inglesa desse período, rivalizando, quer em qualidade, quer na economia do preço, com a sua congénere chinesa.
Este prato coberto encanta pelas suas dimensões reduzidas, aproximadamente 23 cm. Também se insere, tal como as peças anteriores, na classificação sugerida pelo Luís, como um exemplar da família da "árvore de fruto". A liberdade de inspiração dos anónimos artistas, fosse por dificuldades de representação, fosse pela superfície reduzida que tinham para decorar, levou a que não estejam presentes alguns dos elementos - arvores, figuras lendárias, pombas - que inicialmente individualizaram este padrão.
Para finalizar, uma pequena jarra e uma chávena, estas com a figuração do pinheiro. A partir de um esquema decorativo conhecido e bem dominado, os artistas demonstram a sua capacidade criativa, interpretando, a seu modo, os elementos que caracterizam o Cantão Popular.
"Velharias do Luís"- Luís Montalvão
"Arte, Livros e Velharias" - Maria Andrade
Ivete, por mais que veja este motivo nunca consigo ficar indiferente.
ResponderEliminarÉ tão belo e as suas interpretações tão diversas, que a originalidade impõe-se.
Também creio que sempre que veja este motivo à venda, e tenha com que comprar, ele não vai ficar onde estava! Trago-o comigo com certeza.
Agradeço-lhe o ter aqui trazido estas peças que, tal como já nos habituou, são fantásticas.
Espero que esteja a gozar um fresquíssimo Verão, como já não me lembro de ver há muito tempo.
O Alentejo até parece ter preferido ficar na Europa, em vez de ter viajado para África!
Manel
Manel
ResponderEliminarAqui, pelas terras transmontanas, o calor não tem abrasado como nos anos anteriores. Pela noite, até está fresco.
O tema deste post resultou de uma associação de peças com este motivo que estavam dispersas por vários locais. As novas tecnologias permitem e facilitam estas habilidades (embora incipientes da minha parte), de guardar as imagens, fotografadas há mais tempo e formar conjuntos com as mais recentes. Foi este o caso. As terrinas de Lisboa, juntamente com a de Mogadouro, possibilitaram este post.
A cor e o formato alegram as estantes onde estão expostas. Agora, que aprendi convosco, a começar a entender algumas nuances nas decorações, nos tons, nas aguadas, nas pastas e nos esmaltes, sinto-me algo mais confiante a abordar este tema do Cantão Popular.
Para breve uma surpresa que resultou, também, das peças mostradas nos seus blogs pelo Luís e pela Maria Andrade, com o contributo precioso do Manel.
continuação do boas férias.
Ivete
Ivete
ResponderEliminarMuito obrigado por ter mostrado peças tão bonitas e pelas referências à minha pessoa. Na verdade, continuo a interrogar-me sobre este cantão popular. Se a fonte de inspiração parece sem dúvida ser o padrão do salgueiro, qual terá sido a primeira fábrica a fazê-lo em Portugal em que local, Coimbra, Porto ou Gaia? Até agora a as produções mais antigas deste motivo parecem ser as de Santo António de Vale da Piedade, mas certamente houve outras, a julgar pelas variedades de formas e interpretações do padrão do salgueiro.
Enfim, teremos que ter paciência e aguardar por mais escavações arqueológicas em fábricas do século XIX, ou pelo aparecimento de mais peças marcadas, que lancem luz sobre motivo de inspiração oriental, que nos chegou por via da faiança inglesa e que os nossos ceramistas interpretaram de uma forma livre e imaginativa.
Um abraço
Luís
EliminarO seu nome já é uma referência a nível das faianças. É um gosto ler os seus textos, sempre cuidados e elucidativos.
Era bom e totalmente conveniente que surgissem mais peças marcadas com este motivo, que permitissem estabelecer comparações e aventar hipóteses. Atá lá ... conjecturamos.
Mas que são bonitas e dá gosto entender, estudar, observar e tudo o mais que quisermos, lá isso dá.
Um abraço
Ivete
Esqueci-me de lhe dizer que a sua jarrinha, que aparece na sua penúltima fotografia, é praticamente igual a uma outra que tenho, só que o rebordo superior da que apresenta foi cortado, talvez porque se tenha partido a parte superior (esta minha apresenta também uma grande falha na parte superior do rebordo).
ResponderEliminarEsta que possuo tem um rebordo superior com um diâmetro igual ao do pé da base - 6,8 cm de diâmetro.
Se quiser comparar posso dizer-lhe a esta minha jarrinha tem 15,5 cm de altura e cerca de 9,5 cm de diâmetro no bojo.
São uma graça estas peças.
Manel
Belo conjunto de peças, Ivete! Sempre o sortilégio do cantão popular a deixar-nos encantados.
ResponderEliminarAndei a namorar uma terrina destas, mas o prato coberto ainda me seduz mais. E a rematar, a chávena e pires que acho um verdadeiro mimo! Enfim...
Um abraço
Maria A.
ResponderEliminarGosto muito de a ver de volta a estas paragens. Os seus comentários, sempre bem fundamentados, já se faziam sentir pela sua ausência.
Também gosto do azul destas peças, tão ingénuas, mas tão bonitas. Também ando a catrapiscar uma pequena terrina.... vamos lá a ver se o namoro resulta!
Um abraço e seja bem vinda.
Ivete