A sua colecção in " Casa & Decoração" nº 38, de Novembro de 1988.
No "Monte dos Pensamentos", Ruben A., "citadino de nascença, mas rural de escolha", reuniu uma importante colecção de faianças, com exemplares produzidos por fábricas de várias zonas do País.
Este Monte era o seu refúgio de fim-de-semana. Era aqui
(...)
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...
(...)
Toada de Portalegre, José Régio
que Ruben A. escrevia e sonhava. Daqui partia para a "caça aos pratos", percorrendo caminhos e visitando locais, em busca de mais uma preciosidade.
Entremos na sua casa:
É esta a sala principal, separada por um arco abatido. O tom claro das paredes contrasta com o tijolo do chão. Os móveis rústicos harmonizam-se, muito bem, neste conjunto.
No arco, coberto de pássaros, todos chilreiam.
Ao fundo, depara-se-nos um grupo de figuras históricas: D. Pedro IV, D. Miguel, Almeida Garrett e algumas mais, cuja insuficiente visibilidade se supre através do recurso a imagens extraídas do Catálogo do Palácio do Correio Velho, de Março de 1996.
Pela paleta cromática, pela gramática decorativa, pelas cercaduras, as peças que antecedem são atribuíveis a fábricas do Norte: Bandeira, Fervença, Gaia, entre outras.
Nas noites frias de Inverno, a lareira convida à tertúlia. Ruben A., amigo de escritores e artistas nacionais e estrangeiros, era, com eles que, provavelmente, aqui se reunia. Em algumas dessas conversas, deve ter dominado o seu gosto pelas faianças, que com tanto prazer coleccionava.
Nas salas seguintes prevalecem os Ratinhos .
Das flores aos motivos geométricos, passando pelos figurativos, recordam, na sua ruralidade e singeleza, os pobres migrantes que os traziam para, no fim das ceifas, os venderem. Deste modo, "amigalhavam" mais um pouco para o longo Inverno que se avizinhava.
Exemplares de composições florais, de organização axial, plenas de ritmo e harmonia. Numa clara demonstração ao horror vacui, toda a superfície da peça surge coberta de cor e movimento.
Neste ponto da casa, encimando o arco, sobressaem três Ratinhos de figura: o violeiro e a violeira; a seu lado, como que dirigindo-se para o ambiente festivo que eles insinuam, um marialva de estilo folgazão, cuja representação se repete a fim de apurar a sua perceptibilidade. Este Janota, pela pose e pelo vestuário, poderia estar presente num salão, exibindo os seus dotes de cavalheiro aprumado, ou " fazendo a Avenida", no século XIX, como Carlos da Maia, de Eça de Queirós.
Compunham a colecção diversos outros pratos Ratinhos, de indiscutível beleza, demonstrativa do critério selectivo e aprimorado do coleccionador. Destaco dois subconjuntos: os exemplares bicromáticos a verde e manganês - mais recuados no tempo - e os que incluem doze flores, de especial apetência pelos conhecedores desta faiança.
PCV, Março de 1996, p.161
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Imagem retirada da net. |
O coleccionador Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu em Lisboa, no ano de 1920 e faleceu em Londres, em 1975.
Fonte: Revista Casa e Decoração, nº38/Novembro, 1988