sábado, 21 de dezembro de 2019

Natal 2019

A "Sagrada Parentela", conjunto de reduzidas dimensões mas que comporta, em Si, todo o Bem do Mundo. Na sua singeleza transmite Paz e Alegria. A todos, um Santo Natal.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Um prato ratinho numa escavação arqueológica






Nas escavações arqueológicas as cerâmicas  são dos espólios mais frequentes que surgem, constituindo  elementos importantes e essenciais para um estudo económico e sociológico da época a que reportam, pois proporcionam bastas informações "acerca das sociedades que em cada época produziram e utilizaram estes objectos do quotidiano"1. Foi o que aconteceu  com um fragmento de um prato ratinho que, juntamente com outros, viu a luz do dia e da celebridade aquando de um acompanhamento 
N arqueológico de obra na Rua do Carmo, no Porto. (nº8 da Planta)
A Casa do Infante seleccionou-o como Peça do Mês, com o título "Prato de faiança popular", em Março de 2014.

"Itinerário da Faiança do Porto e de Gaia", Pág.121


Peças do conjunto recolhido junto do antigo Convento do Carmo, à Praça de Lisboa

Neste conjunto, para além de peças de louça brioso, percursoras da "louça ratinha de Coimbra"2,surgem outros fragmentos de argila vermelha, revestida com esmalte verde, de possível atribuição a fabrico de Aveiro.

Esta iniciativa vem realçar a importância das escavações arqueológicas para o estudo da faiança portuguesa.
Por casualidade, a Colecção de Faiança da Fundação Cargaleiro possui um exactamente igual, se bem que um pouco maior e em excelente estado de conservação. Figurou na Exposição "Cerâmica na Colecção da Fundação Manuel Cargaleiro", com o nº 42 de catálogo.



Ambas as peças se perfilam dentro dos espiralados, com a espiral central circunscrita por dois círculos concêntricos. A leveza da decoração está na cercadura, que se prolonga no espaço central, desenvolvendo-se por um entrelaçado de grinaldas, formadas por um cordão de pequenos círculos em verde, entrecuzados por filamentos ondulados, em manganés.
Folheando o catálogo do Palácio do Correio Velho, realizado em Março de 1996 sobre a colecção de faianças do Eng. Abecassis, deparamo-nos com um prato com decoração semelhante, sendo que as grinaldas são formadas por pequenos círculos. (Fila superior, segundo a contar da direita).


Catálogo PCV "Colecção de Faianças  Eng. José Abecassis", Pág.118

Para terminar esta breve análise de faiança ratinha, acrescenta-se um outro prato, que pertenceu às colecções do Cmdte Vilhena e, também, do Eng. Abecassis. Apresenta a mesma cercadura, repetindo-a no centro, em vez da espiral.





1- Paulo Dórdio, Ricardo Teixeira, Anabela Sá - "O recente contributo da arqueologia" in Itinerário da Faiança do Porto e Gaia, MNSR, Pág.119.
2- Paulo Dórdio, Ricardo Teixeira, Anabela Sá - "O recente contributo da arqueologia" in Itinerário da Faiança do Porto e Gaia, MNSR, Pág.155.









segunda-feira, 29 de abril de 2019

Igreja de S. Domingos de Benfica



No dia 5 de Abril realizámos uma visita de estudo à Igreja de N.Srª. do Rosário, anteriormente conhecida por Igreja Paroquial de S. Domingos de Benfica. Apesar do dia invernoso, foi um momento interessante, que nos deu a conhecer um conjunto de edifícios, o antigo convento dominicano, no qual a igreja se integra.
A fachada principal revela a sua simplicidade maneirista. Observa-se uma empena rematada por uma cruz, um portal flanqueado por pilastras e  uma janela que ilumina o interior. Na parte superior do portal são visíveis as armas da Ordem, bem como a data 1632, referente à sua edificacão.





A igreja apresenta uma planta em forma de cruz latina. A nave central, cortada por um transepto pouco definido, remata na capela - mor profunda, que se apresenta seccionada, originando deste modo um retro-coro, estando adossada a sacristia. 
Possui belissímos painéis azulejares figurativos, azuis e brancos, de autoria de José de Oliveira Bernardes, ,de uma beleza eterna, representando cenas das vidas de São Francisco e São Domingos, embelezam a capela-mor. Esta, de pequenas dimensões, mostra uma cobertura em caixotões de estuque pintado. Contém o altar e o retábulo-mor, de dupla face, de talha dourada e planta recta e três eixos definidos por seis colunas coríntias, sobre plintos em forma de paralelipípedo. Centralmente, cobertura em arco de volta perfeita, onde se destaca o sacrário, em forma de pequeno templo. Toda a talha é de autoria do mestre Jerónimo Correia.






Uma perspectiva do coro-alto, em madeira e ferro, de perfil curvo, com guarda vazada e acessos por escadas laterais.





A sacristia apresenta uma planta rectangular simples e as paredes divididas em dois planos, o superior com apainelados de madeira, integrando painéis pintados.
Lateralmente, dois arcazes de madeira, encimados por espaldar de apainelados, intercalados por espelhos.






Nos topos dos braços surgem as capelas retabulares dedicadas a Cristo Crucificado e a Nossa Senhora do Rosário, rodeadas por painéis azulejares co a representação de anjos sustentando festões floridos.


No retro-coro é-nos dado apreciar as paredes decoradas com estuques e cobertura com caixotões ornamentados com cartelas, também em estuque.
Aí se encontram o cadeiral, o orgão de tubos e o túmulo do Dr. João das Regras, talhado em mármore branco de Montelavar.






sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Uma intervenção arqueológica no Largo das Olarias





Esteve patente ao público, no Museu Nacional de Arqueologia a exposição temporária "MEMÓRIAS DE UMA OFICINA ESQUECIDA" com curadoria de Anabela Castro e coordenação de Alexandre Pais e Lurdes Esteves. Resultou de uma iniciativa conjunta do Museu Nacional do Azulejo, do Laboratório Nacional de Engenharia Civil  e do ARTIS - Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e deu-nos conta do contributo essencial e acrescido para o conhecimento da produção das faianças portuguesas dos espólios  recuperados aquando da intervenção arqueológica realizada no Largo das Olarias, no bairro da Mouraria, entre os anos de 2015 e 2017. Através dos materiais recolhidos pudemos fazer uma ideia do modo de funcionamento dos fornos e dos "acidentes" que, por vezes, ocorriam. Foi o caso desta exposição que nos mostrou, quase realisticamente, os infortúnios que podiam ocorrer. No entanto, essses objectos "apesar de destruídos (...) são capazes de nos cativar com uma beleza que somente se pode encontrar na imperfeição"1.



Imagem retirada da internet

Os fornos encontrados e escavados serviam, entre outros tipos de cerâmica, para a produção de faiança esmaltada de branco e com pintura, em azul, claramente de influência oriental. 
Foi feito e levantamento de quatro fornos, um circular e três ovais. Apresentavam duas câmaras: uma de combustão inferior (fornalha) e outra superior, onde se procedia à cozedura das peças. Entre as câmaras encontrava-se uma grelha assente em arcos, com orifícios, destinados à passagem do calor. Um corredor, em abóboda, permitia o acesso ao local onde se acendia o fogo. 
O seu período de laboração  situa-se cronologicamente entre os finais do século XVI e primeiras décadas do XVII. Dependendo dos materiais utilizados na sua construção, muitas vezes de fraca qualidade, o que implicava remodelações, o seu tempo médio de funcionamento foi de cinquenta anos. 

"Dos depósitos escavados recolheu-se um número considerável de fragmentos de trempes, cerâmica não vidrada e faiança em vários momentos de produção (enchacotada, vidrada e pintada mas não cozida segunda vez e peças acabadas mas apresentando defeitos)"2.


Imagem retirada da internet
Foram encontradas grandes quantidades de cerâmica esmaltada de branco, decorada a azul, com clara influência da porcelana chinesa, reproduzindo "animais envolvidos por vegetação no seu habitat natural"3: aves coelhos e cães adaptados à fauna autóctone.
Outras formas recuperadas e que permitiram aferir o que se usava no quotidiano das casas mais abastadas foram as tigelas e galhetas, numa decoração geometrizada e em cartelas, preenchendo a totalidade da superfície  das peças.




Observando a imagem supra podemos constatar outras formas recuperadas, mais simples, não vidradas e de claro uso doméstico, como por exemplo bilhas e púcaros.



Muitas das peças exibidas na exposição mostram anomalias devidas, principalmente, à falta de controlo da temperatura do forno. As altas temperaturas atingidas fizeram com que houvesse um processo de fundição das peças, formando-se conjuntos amalgamados, entre a faiança e o próprio recipiente contentor, neste caso as casetas, caixas refractárias, cuja função era "preservar as peças no processo de vitrificação durante a segunda cozedura"4- Cilindricas, apresentavam duas formas: bordo vertical e fundo plano ou de bordo vertical e fundo aberto, com orifícios verticais onde encaixavam os cravilhos que iriam servir de suporte para os pratos de aba.
Esta era a técnica oleira mais comum usada nas olarias lisboetas, por contraposição ao que acontecia nas oficinas de Coimbra ou Gaia, onde o recurso às trempes era o mais usual.






Por curiosidade mostram-se dois conjuntos de pratos, amalgamados, em chacota e já na segunda cozedura, recuperados nas escavaçóes de Santa Clara a Velha, Coimbra, aquando da campanha das obras de restauro e conservação do espaço adjacente ao mosteiro, provenientes dos caqueiros que foram sendo constituídos nas cercanias do mesmo. 


1- Textos informativos da exposição.
2/3/4- Anabela Castro, Nuno Amaral da Paula, Joana Bento Torres, Tiago Curado, André Teixeira -"Evidências de produção oleira nos séculos XVI e XVII no Largo das Olarias, Mouraria, Lisboa". Arqueologia em Portugal, 2017, Estado da Questão.