sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Algumas peças de Estremoz


Faiança de Estremoz. Pássaro integrado na paisagem. O mesmo motivo central, com envolvimentos diferenciados nos pratos. Um galheteiro no qual as galhetas apresentam, também, o motivo anteriormente referido.
A produção de faiança em Estremoz terá tido início cerca de 1770 e persistido até 1808, altura em que a laboração das oficinas findou, mercê da acção devastadora das invasões napoleónicas, que também se repercutiu noutros centros produtivos do país..
No dizer de João Castel-Branco Pereira "a faiança de Estremoz surge com estatuto periférico"1, relativamente a outros centros de produção cerâmica como Viana, Porto, Aveiro, Coimbra, Caldas da Rainha e Lisboa. Continua o mesmo autor afirmando que, embora "circunscrita a um mercado local (...) esta louça, fundamentalmente utilitária, reflecte um curioso compromisso entre as vivèncias profundas da ruralidade da região, marcada pela aplicação decorativa de uma botânica local e a transposição de modelos eruditos coevos"2. Perfeitamente identificada pela leveza da sua pasta, pelo brilho do seu vidrado e pela delicadeza da sua decoração, esta faiança é profundamente valorizada não só na  região estremocense, como em grande parte do Alentejo. 

Apresenta uma grande variedade de motivos decorativos nas reservas centrais, mas são as cercaduras que melhor caracterizam as peças, pois representam espécies vegetais autóctones, como a beldroega, a murta, o loureiro, a madressilva, a oliveira e o pinheiro.



As peças que se mostram, incluídas no grupo dos animais, visto ser um pássaro - o gaio - o seu motivo aglutinador, são valorizadas por estarem integradas numa paisagem conjugando, deste modo, dois temas decorativos decorativos tipicos da faiança de Estremoz.


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Imagem retirada da internet





Em primeiro plano, na reserva central, definida por dois círculos concêntricos, é-nos dado observar um gaio, ave que se encontra de norte a sul do país, em ambientes tipicamente florestais. Equilibra--se num ramo de árvore tendo, como fundo, uma paisagem campestre. Aba com círculos concêntricos, decorada com estilizações de folhas de oliveira.






No livro de Sven Stapf "Faiança Portuguesa Faiança de Estremoz", caracteriza-se a pintura paisagística como demonstrando uma grande "simplicidade, atingindo por vezes a abstracção  pelos seus inconfundíveis traços de pincel que, não sendo finos, conseguem transmitir uma grande leveza"3.
A reserva central exibe a mesma ornamentação da peça anterior, se bem que menos rica e com menor número de pormenores. Mostra uma aba composta por elementos vegetalistas estilizados.





Galheteiro de Estremoz. As galhetas  revelam a mesma decoração abordada anteriormente. Os gaios exibem as penas, com leves apontamentos em azul forte, uma das suas marcas de imagem.





A base é formada por quatro recipientes cilíndricos, dois maiores com base cintada e dois menores com base escalonada, ligando-se, simetricamente em cruz. Ao centro, a pega em aro sobre apoio vertical em balaústre. A ornamentação dos contentores das galhetas aproxima-se da decoração paisagística, com alguns elementos de construção, se bem que não idealmente definidos.










1/2 - "Faiança de Estremoz". Catálogo da Exposição realizada no Museu Nacional do Azulejo, 1995.
3 - Sven Stapf "Faiança Portuguesa Faiança de Estremoz",1997.