segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ruben A. Um coleccionador.

Ruben A. Um coleccionador de faiança.
A sua colecção in " Casa & Decoração" nº 38, de Novembro de 1988.

No "Monte dos Pensamentos", Ruben A., "citadino de nascença, mas rural de escolha", reuniu uma importante colecção de faianças, com exemplares produzidos por fábricas de várias zonas do País.
Este Monte era o seu refúgio de fim-de-semana. Era aqui


 (...)
Naquela
Bela
Varanda
Daquela
Minha
Janela
Da tal casa tosca e bela
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...
(...)
Toada de Portalegre, José Régio

que Ruben A. escrevia e sonhava. Daqui partia para a "caça aos pratos", percorrendo caminhos e visitando locais, em busca de mais uma preciosidade.

Entremos na sua casa:



É esta a sala principal, separada por um arco abatido. O tom claro das paredes contrasta com o tijolo do chão. Os móveis rústicos harmonizam-se, muito bem, neste conjunto.

No arco, coberto de pássaros,  todos chilreiam.



Ao fundo, depara-se-nos um grupo de figuras históricas: D. Pedro IV, D. Miguel, Almeida Garrett e algumas mais, cuja insuficiente visibilidade  se supre através do recurso a  imagens extraídas do Catálogo do Palácio do Correio Velho, de Março de 1996.








Pela paleta cromática, pela gramática decorativa, pelas cercaduras, as peças que antecedem são atribuíveis a fábricas do Norte: Bandeira, Fervença, Gaia, entre outras.

Nas noites frias de Inverno, a lareira convida à tertúlia. Ruben A., amigo de escritores e artistas nacionais e estrangeiros, era, com eles que, provavelmente, aqui se reunia. Em algumas dessas conversas, deve ter dominado o seu gosto pelas faianças, que com tanto prazer coleccionava.



Nas salas seguintes prevalecem os Ratinhos .
Das flores aos motivos geométricos, passando pelos figurativos, recordam, na sua ruralidade e singeleza, os pobres migrantes que os traziam para, no fim das ceifas, os venderem. Deste modo, "amigalhavam" mais um pouco para o longo Inverno que se avizinhava.



Exemplares de composições florais, de organização axial, plenas de ritmo e harmonia. Numa clara demonstração ao horror vacui, toda a superfície da peça surge coberta de cor e movimento. 



Neste ponto da casa, encimando o arco, sobressaem três Ratinhos de figura: o violeiro e a violeira; a seu lado, como que dirigindo-se para o ambiente festivo que eles insinuam, um marialva de estilo folgazão, cuja representação se repete a fim de apurar a sua perceptibilidade. Este Janota, pela pose e pelo vestuário, poderia estar presente num salão, exibindo os seus dotes de cavalheiro aprumado, ou  " fazendo a Avenida", no século XIX, como Carlos da Maia, de Eça de Queirós.




Compunham a colecção diversos outros pratos Ratinhos, de indiscutível beleza,  demonstrativa do critério selectivo e  aprimorado do coleccionador. Destaco dois subconjuntos:  os exemplares bicromáticos a verde e manganês - mais recuados no tempo -  e os que incluem doze flores, de especial apetência pelos conhecedores desta faiança.


PCV, Março de 1996, p.161


Imagem retirada da net.

O coleccionador Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu em Lisboa, no ano de 1920 e faleceu em Londres, em 1975.



Fonte: Revista Casa e Decoração, nº38/Novembro, 1988










7 comentários:

  1. Muito obrigada, Ivete, por nos ter aqui proporcionado imagens desta belíssima coleção do Ruben A. A primeira fotografia está espetacular!
    Nem sequer sabia que ele tinha colecionado faianças. E os ratinhos ali tão bem representados!
    Enfim, adorei ver!
    Um abraço

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    1. Cara Maria

      A colecção, que eu tive o privilégio de ver directamente quando passei um fim de semana no Monte dos Pensamentos,era de facto notável.
      Muito obrigada pelas suas palavras
      Ivete

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  2. Cara Ivete.
    Soberbo este post.
    Ilustra para mim um novo amante da faiança portuguesa,que não conhecia.
    Amei a disposição artística da coleção nas paredes.
    As peças são magníficas de primeira escolha como hoje é difícil encontrar.
    Enriqueci, agradeço-lhe esta imensa felicidade no meu dia d'anos!
    Bj
    Isabel

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    1. Cara Isabel
      Muito lhe agradeço o seu comentário tão simpático. Ainda bem que gostou e que o meu post serviu como uma simbólica prenda de anos.
      Espero que tenha passado um bom dia de anos.
      Um abraço
      Ivete

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  3. Belíssima ideia essa a de mostrar a casa de um coleccionador de faiança. Ver as peças de um coleccionador de faiança por si só num catálogo editado não capta a graça, a vivência especial da sua casa nem a forma como dispôs os pratos e os móveis que escolheu. São casas com alma. É por isso que eu adoro a Casa-Museu José Régio em Portalegre, pois mantem o espírito de um coleccionador.

    E que aconteceu a sua colecção? Foi vendida não?

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  4. Caro Luís

    Agradeço o seu comentário. Tem toda a razão. Ver as peças de faiança integradas na decoração estabelecida pelo coleccionador faz uma grande diferença. Eu ainda tive o privilégio de as ver tal como aparecem nas imagens. Era uma colecção por temas e, na medida do possível, por fábricas.
    Era uma casa com vida.
    Penso que grande parte da colecção foi vendida.

    Um abraço

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  5. Julgo que descrever ou referir os coleccionadores de Ratinhos ou de faiança em Portugal, como fez neste post de forma simples e despretenciosa, poderá ser também um caminho interessante para este blog. Poderemos todos aprender com eles e consigo também

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