sábado, 1 de junho de 2013


A propósito de uma peça de arte da Fábrica das Devesas



António de Almeida e Costa foi o criador e impulsionador da  Fábrica das Devesas, situada em Vila Nova de Gaia.
Nascido nos arredores de Lisboa, onde aprendeu a arte de canteiro, foi viver para o Porto, ingressou na oficina de Emídio Amatucci e nesta continuou a sua aprendizagem. Ambicioso e visando o futuro, investiu na sua formação, matriculando-se na cadeira de Geometria e Ornato, que frequentou na Escola Industrial do Porto.
Alguns anos mais tarde, em 1865, fundou a Fábrica das Devesas e, em 1886, inaugurou a sucursal na Pampilhosa do Botão, situada na confluência das linhas de caminho-de-ferro Lisboa/Porto e Beira Alta, que unia a Figueira da Foz a Vilar Formoso, estação última de saída para Espanha. Dotado de uma aguda perspectiva de desenvolvimento económico, não descuidando o mercado interno ( daí a localização estratégica da sucursal), tinha, também, a exportação, como ideia dominante .
Associando a arte à indústria, diversifica a sua produção, concentrando-se, entre outras vertentes, na execução  de peças de grande formato, destinadas à decoração exterior, de jardins e fachadas.

Não descurava, por outro lado,  a formação técnica e artística dos seus operários e, por isso, fundou, na própria fábrica, uma escola de modelação e desenho, cuja frequência se documenta através do pedido de apoio, requerido ao Rei D. Carlos por Joaquim Gonçalves da Silva, operário da Fábrica das Devesas, que lhe permitisse, em virtude das suas carências económicas, continuar a frequentar o curso de desenho histórico da Academia Politécnica do Porto.





Sufragando esse pedido, António de Almeida e Costa atestou, como acima se vê, o exemplar desempenho e assiduidade no trabalho desse seu operário, salientando o seu percurso de formação, quer na própria fábrica, quer na escola Industrial Passos Manuel, circunstância que, naturalmente, favoreceu o deferimento régio obtido, exarado no despacho constante do documento que segue. 




Para além desta vertente pedagógica e social, há que realçar a preocupação de António de Almeida e Costa em acolher e apoiar  artistas portuenses, em especial escultores.  Subsidiou um estágio em Paris ao escultor António Teixeira Lopes.

Numa simbiose entre a indústria e a arte, a  sua cerâmica apresenta atributos dignos de nota, por via da qualidade do esmalte, da pintura cuidada e de uma paleta cromática diversificada.
É o caso desta coluna, de faiança fina e polícroma, cujas imagens se devem à cortesia da leiloeira Cabral de Moncada ( Catálogo do Leilão 147, pág. 65) 
                                  
Uma coluna finamente esmaltada, onde avultam, em cada uma das faces, duas cenas, uma de um casal a bailar, outra de dois homens envolvidos numa briga. A pintura retrata uma paisagem,com casario,  ao gosto das fábricas do norte, envolta por uma ornamentação bem delineada. 
A marca surge na base "Fª DAS DEVESAS".








 A cena do bailado, pela atitude, pela posição, pelos requebros e pelo marcar ritmado das castanholas, pode  bem ter colhido inspiração na imagem que segue:

O Povo de Lisboa. Exposição Iconográfica.
 Câmara Municipal de Lisboa, Junho/Julho 1978/1979


  

Este tipo de peças, as colunas, destinavam-se a servir de suporte a imagens de algum porte, como a que se retirou do livro de Artur de Sandão "Faiança Portuguesa Séculos XVIII/XIX, pg 213". 






3 comentários:

  1. Olá Ivete,
    Veio realmente muito a propósito esta biografia de António de Almeida e Costa a acompanhar magníficas peças da Fábrica das Devezas. Há aqui pormenores que eu desconhecia, apesar de já ter lido alguma coisa sobre este importante industrial do Norte, de origem lisboeta.
    As colunas e figuras a branco são peças que imediatamente associamos à Fábrica das Devezas, mas esta policromada tem um colorido e um movimento das figuras que a tornam uma peça excecional.
    Um abraço

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  2. Olá Maria
    Tem razão, a coluna é lindíssima e muito bem decorada. Tem uma pasta muito fina e o cromatismo das cores é excelente. É uma magnífica peça de decoração. Já tinha encontrado os documentos do operário que pedia a ajuda régia para continuar os seus estudos e achei que se enquadravam bem no perfil de António de Almeida e Costa, que não descurava a formação artística dos seus artesãos.
    Um abraço
    Ivete

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  3. Cara Ivete

    Coincidência. Hoje, na biblioteca, estive a desfolhar catálogos de leilões, enquanto controlava a sala de leitura e por acaso, encontrei precisamente estas duas colunas e fiquei encantado. Realmente temos os mesmos gostos.

    Felicito-a por colocar on-line estas informações sobre mais uma fábrica portuguesa. Os cibernautas agradecem.

    Um abraço

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