terça-feira, 16 de julho de 2013

Uma figura de convite da Fábrica da Roseira


Uma figura de convite da Fábrica da Roseira






 Francisco Hipólito Raposo, grande conhecedor e coleccionador de faiança portuguesa, na crónica semanal que escrevia no jornal Expresso, na década de noventa do século passado, conta-nos como descobriu uma figura de convite, produzida na extinta fábrica da Roseira. 


Francisco Hipólito Raposo

Numa ida para o Alentejo, enquanto duravam as manobras do comboio em Santa Apolónia, sua irmã Isabel avistou, num pequeno vão de escada, uma figura colorida. Por ela alertado, foi até lá. Fascínío completo - era uma figura de convite de um soldado, pintado por Mestre Roseira. Estava na parede de uma casa pombalina, toda revestida de azulejos setecentistas, onde laborara a antiga Fábrica da Bica do Sapato. A esta  sucedeu a  Fábrica da Calçada dos Cesteiros, também conhecida por Fábrica da Roseira, designação que passou a tomar devido ao  nome do seu posterior adquirente, Augusto Victor Roseira.


Fachada principal da Fábrica da Roseira

Depois de várias diligências com a sua proprietária, descendente do Mestre Roseira, foi fixado como preço de aquisição o valor de doze contos. Uma condição adicional - que o grande coleccionador, naturalmente, satisfez de bom grado - foi a de que ele se comprometia a mandar  substituir, por azulejos comuns, o espaço desfalcado.



A figura de convite revelou-se um original soldado de um qualquer regimento português do século XIX, com "calças bombadas de zuavo, o quépi tipo "Meninos da Luz" e gola amarela com a insígnia dos Caçadores, a trompa de caça". Recuperados que foram os azulejos, estes passaram a decorar as paredes da casa do coleccionador.

A Fábrica da Roseira continuou a sua laboração, dedicando-se, especialmente, à produção de azulejos de fachada e de painéis publicitários.
Por encomenda do rei D. Fernando II, produziu parte dos painéis azulejares para o Palácio da Pena. Também se tornou mais conhecida a partir do momento em que forneceu o revestimento exterior do Palacete Beau-Séjour, em Lisboa. 



   
Palacete Beau Séjour
Imagem de autoria de Mário Marzagão







Palacete Beau Sejour
Imagem de autoria de Mário Marzagão





O enriquecimento de um grupo urbano de industriais e comerciantes, desejosos de demonstrarem a modernidade do seu gosto, fez com que os painéis publicitários em azulejo entrassem na moda. Estes, para além de afirmarem a individualidade dos seus encomendantes, engrandeciam, pelo seu colorido, as fachadas onde eram afixados. As lojas, mais apelativas e personalizadas, transformam-se, assim, em pólos de atracção de clientes.

É o caso do painel publicitário, alusivo à fábrica de goma "A Japoneza", também produção da Fábrica Roseira. Pertenceu à colecção Leitão. Actualmente, faz parte do acervo da colecção Berardo.




Cortesia do coleccionador Leitão

Há poucos dias, folheando o Almanaque Bertrand de 1913, encontrei um anúncio à fábrica Roseira. Por entender que pode trazer alguns esclarecimentos para o  estudo da mesma fábrica, junto-o a este post.




Nota: Este post teve como suporte a crónica "Bandeira do Património",escrita semanalmente, por Francisco Hipólito Raposo, no Jornal Expresso, 1993.








4 comentários:

  1. Cara IF

    A If tem que activar o Menu "Seguidor", pois assim não conseguimos ser alertados cada vez que publica um novo post e é uma pena, uma vez que os assuntos são tão interessantes. Se precisar de ajuda, ligue-me que eu a ajudo nessas coisas técnicas.

    Acho muito giro estes posts, que faz com notícias antigas de jornais e revistas sobre antigos colecionadores. Não tinha sequer a ideia que a Roseira fabricasse paíneis publicitários em azulejos.

    Achei graça à história do Hipólito Raposo ter comprado os azulejos. Recordei-me que há pouco tempo estava eu a fotografar umas estatuetas em faiança numa casa em Estremoz, quando o proprietário meteu conversa comigo pensando que eu lhe queria comprar a casa. Voltei ao mesmo sítio este ano, o prédio estava em obras e das estatuetas já não havia notícia. Devia ter feito como o Hipólito Raposo e ter oferecido na altura 20 euros por cada uma das estatuetas e ficava eu com uma e o Manel com outra.

    Enfim, falta-me o olho para o negócio

    Um abraço

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  2. Luís

    Foi pena ter perdido a oportunidade do negocio. As imagens mereciam um final digno e estarem na posse de pessoas que as apreciam, era puro sobre azul. Outras ocasiões surgirão.
    Tenho mais alguns temas em estudo, baseados em artigos de jornais e de revistas. A seu tempo virão.
    Um abraço
    If

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  3. Olá, sou filha do Francisco Hipolito Raposo. Foi com muito gosto que li o seu artigo.Este painel do soldado faz parte da minha vida e nunca soube da sua historia e origem até hoje. Permanece até ao presente, na casa em que ele viveu.
    Muito muito obrigada. Catarina

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    1. Catarina

      Gostei da sua mensagem. Fico contente por ter recordado seu Pai e, de algum modo, esclarecer uma pequena história que encontrei descrita num artigo do Jornal Expresso.
      Ivete

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