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Colecção particular |
João da Bernarda sublinha que a "faiança de Alcobaça é um caso tardio da cerâmica portuguesa do último quartel do século XIX, descendendo em linha recta da de Coimbra"1.
Não é pois de admirar que a peça que abre este texto se tenha inspirado numa outra, esta sim da produção de Coimbra, explicável pela proximidade geográfica entre as duas localidades.
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Casa Museu Vieira da Natividade NºInv 353 |
Integrando o acervo da Casa Museu Vieira da Natividade, é óbvio que serviu de modelo à peça alcobacense. Distingue-se pela cercadura florida, mais cheia e garrida, devido, quer às pinceladas fortes e cheias, quer à policromia mais acentuada. As senhoras, previdentes, de sombrinha na mão, não fosse a chuva ou o Sol abrasador aparecerem, talvez se dirigissem ao terreiro da feira, para comprar alguma louças, daquelas mais económicas, mas tão coloridas e agradáveis aos seus olhos e bolsas. "As peças identificam-se pelo motivo decorativo. Diferem pela concepção e pelas cores. É, porém, indiscutível a influência de Coimbra"2.
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Casa Museu Vieira da Natividade NºInv 19892 |
Colecção particular
Nestes dois exemplares, os jovens marialvas, fadistas amadores, ensaiam passos de dança, enquanto dedilham melodias que encantam as moçoilas que os escutam. Mais uma vez se nota a influência coimbrã no motivo central. As diferenças patenteiam-se na paleta cromática e na composição ornamental da cercadura.
O Mosteiro de Alcobaça fez, durante muito tempo, encomendas de louças, nomeadamente de Coimbra. A partir de 1834, na feira semanal que passou a realizar-se, era comercializada cerâmica de diversa proveniência. Entre elas estava a de Coimbra, especialmente apreciada pois eram "de maior competição e aspecto apelativo"3.
É conhecido o intercâmbio dos artesãos de cerâmica entre regiões e oficinas. Com eles levavam o seu saber e a sua arte. Foi o caso de José dos Reis dos Santos que, de Coimbra migrou para Alcobaça onde fundou a sua fábrica na zona da ponte de D. Elias. Aí, continuou a produzir louça grossa de feira, para satisfazer a clientela que tanto apreciava o seu colorido e garridice. No entanto, introduziu-lhe pequenas nuances que lhe conferiram alguma individualidade. Pelo processo de estampa, com acabamentos manuais e pela combinação das cores tornou-a visualmente mais chamativa. Criou um carimbo próprio que imprimia na pasta, ainda fresca.
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Marca da Fábrica de J. Reis in João da Bernarda "A loiça de Alcobaça", pág. 49 |
Em 1927 é criada a OAL, Olaria de Alcobaça. Iniciada a renovação da produção cerâmica de Alcobaça, são procuradas novas fontes de inspiração. Para além dos temas do século XVII, das olarias de Lisboa, também Coimbra influencia a decoração das suas peças. Copiam-se e reinterpretam-se formas e motivos ornamentais da faiança ratinha.
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Colecção particular |
Pequeno alguidar com uma flor, ao jeito ratinho, com a característica pena de pavão. É interessante o facto de, no tardoz, estar assinalada a inscrição referente à primeira fornada feita pela OAL, que se realizou no dia 5 de Outubro de 1927.
1/3- João da Bernarda "A Loiça de Alcobaça". Asa Editores, 2001, págs.9 e 24.
2 - Ivete Ferreira "Cerâmica na Colecção da Fundação de Manuel Cargaleiro". Câmara Municipal de Castelo Branco", pág.26.