Nas escavações arqueológicas as cerâmicas são dos espólios mais frequentes que surgem, constituindo elementos importantes e essenciais para um estudo económico e sociológico da época a que reportam, pois proporcionam bastas informações "acerca das sociedades que em cada época produziram e utilizaram estes objectos do quotidiano"1. Foi o que aconteceu com um fragmento de um prato ratinho que, juntamente com outros, viu a luz do dia e da celebridade aquando de um acompanhamento
N arqueológico de obra na Rua do Carmo, no Porto. (nº8 da Planta)
A Casa do Infante seleccionou-o como Peça do Mês, com o título "Prato de faiança popular", em Março de 2014.
![]() |
Peças do conjunto recolhido junto do antigo Convento do Carmo, à Praça de Lisboa |
Neste conjunto, para além de peças de louça brioso, percursoras da "louça ratinha de Coimbra"2,surgem outros fragmentos de argila vermelha, revestida com esmalte verde, de possível atribuição a fabrico de Aveiro.
Esta iniciativa vem realçar a importância das escavações arqueológicas para o estudo da faiança portuguesa.
Por casualidade, a Colecção de Faiança da Fundação Cargaleiro possui um exactamente igual, se bem que um pouco maior e em excelente estado de conservação. Figurou na Exposição "Cerâmica na Colecção da Fundação Manuel Cargaleiro", com o nº 42 de catálogo.
Ambas as peças se perfilam dentro dos espiralados, com a espiral central circunscrita por dois círculos concêntricos. A leveza da decoração está na cercadura, que se prolonga no espaço central, desenvolvendo-se por um entrelaçado de grinaldas, formadas por um cordão de pequenos círculos em verde, entrecuzados por filamentos ondulados, em manganés.
Folheando o catálogo do Palácio do Correio Velho, realizado em Março de 1996 sobre a colecção de faianças do Eng. Abecassis, deparamo-nos com um prato com decoração semelhante, sendo que as grinaldas são formadas por pequenos círculos. (Fila superior, segundo a contar da direita).
![]() |
Catálogo PCV "Colecção de Faianças Eng. José Abecassis", Pág.118 |
Para terminar esta breve análise de faiança ratinha, acrescenta-se um outro prato, que pertenceu às colecções do Cmdte Vilhena e, também, do Eng. Abecassis. Apresenta a mesma cercadura, repetindo-a no centro, em vez da espiral.
1- Paulo Dórdio, Ricardo Teixeira, Anabela Sá - "O recente contributo da arqueologia" in Itinerário da Faiança do Porto e Gaia, MNSR, Pág.119.
2- Paulo Dórdio, Ricardo Teixeira, Anabela Sá - "O recente contributo da arqueologia" in Itinerário da Faiança do Porto e Gaia, MNSR, Pág.155.
ResponderEliminarIvete
Ainda que partido o prato é lindo. Não me importava nada de o ter na parede assim mesmo.
Mas este post chama a atenção de um problema. Qual é o alcance geográfico, que os oleiros de Coimbra, que produziam estes ratinhos alcançavam?
Por tradição associamos estes pratos à zona centro, onde eram manufacturados e à zona Sul, para onde os beirões se deslocavam à procura de trabalho e onde trocavam ou vendiam esta loiça.
Pelos vistos esta loiça aparece também na zona do Porto.
Recordo-me que há uns tempos li um artigo muito bom de Hugo Alexandre Guerreiro no nº 4 da revista de Olaria onde o autor consegue através reconstituir o alcance geográfico dos produtos da fábrica de Estremoz.
Talvez os feirantes de Coimbra frequentassem a zona do Porto ou talvez os ratinhos fossem trabalhar nas vindimas da zona do Douro. Enfim, só interrogações.
Um abraço